Um morro, uma favela, muitos barracos e uma população carente. A falta de saneamento básico, ruas sem pavimentação e barracos sem água encanada faz da favela uma triste realidade. Porém a absoluta falta de esperança transforma a realidade, de triste para assustadora.

Não existe ajuda e não existe governo estabelecido para prestar socorro. Praticamente não há PIB ou balança comercial que gere uma perspectiva de melhora em um futuro muito distante. Ânimos exaltados, população armada e insatisfeita são os componentes básicos para uma possível guerra civil.

O que incide sobre o povo é fome, violência, tristeza e amargura. Tudo isso associado a morte da esperança.

Apesar dos esforços de ONGs e voluntários do mundo inteiro, o haitiano segue cabisbaixo e oprimido por uma condição sub-humana e, para muitos, a única certeza é uma morte triste e silenciosa, sem perspectiva de ver a alvorada de sua nação.

Este é o cenário atual para a grande maioria da população do Haiti. E esta foi a situação que Eric Vianna, fundador da ONG Vidas Recicladas, encontrou em sua quinta viagem ao país.

Visivelmente abalado com a condição desumana que vive este povo, Eric concedeu um relato emocionante da situação da nação e falou esperançoso sobre a creche escola que foi aberta este ano no Haiti.

Vidas Recicladas – Qual foi o motivo desta quinta viagem ao Haiti?

Eric Vianna – Agora que foi instalada a creche escola, é preciso aprofundar os trabalhos e criar um estudo de viabilidade para o plano de cinco anos.

VR – O que é o plano de cinco anos?

EV – é um projeto para ampliar o trabalho no Haiti, onde estabeleceremos metas anuais e desafios mensais. Hoje já trabalhamos com 60 crianças durante o período da tarde. Queremos montar um consultório dentário que atenderá inicialmente as crianças da creche e seus familiares e colaborar com a distribuição de alimentos. Essas são ações de impacto para o povo, mas paralelo a isto precisamos ter uma base da ONG registrada no país. Para ter uma ideia, para podermos trabalhar com as crianças demoramos quase seis meses entre documentos e liberações. Será muito mais rápido se tivermos autorização do governo para trabalharmos como ONG.

VR – Diante da situação instável do país, como você vê esse plano?

EV – Vejo com muito otimismo porque Deus está presente neste projeto. Vamos continuar trabalhando de forma lícita e legal. Temos a segurança que Deus aumentará as áreas de atuação da ONG.

VR – Como funciona a parte educacional deste trabalho?

EV – Nesta fase inicial as crianças têm reforço escolar em criolo (língua nativa) e aulas de português, assim as crianças já aprendem um segundo idioma. Temos também ensino esportivo e ensino cristão.

VR – Onde as crianças entram no plano de cinco anos?

EV – Queremos aumentar para 100 crianças atendidas. Levando em consideração que daremos um atendimento social para a família, esse número deverá ser um pouco maior, mas o foco são as crianças.

VR – E qual a rotina dessas crianças?

EV – Elas chegam na hora do almoço, são recebidas com uma alimentação balanceada, durante a tarde eles aprendem o português, têm reforço escolar e aprendem esportes de uma maneira divertida. No meio da tarde também é serviço um lanche. No final da tarde os pais buscam seus filhos.

VR – Qual a sua impressão do país nesta quinta visita?

EV – Para mim, essa foi a mais triste de todas. Vi o país as margens de uma guerra civil. Fome, miséria e tristeza são as palavras que definem o estado do haitiano. Estão emocionalmente massacrados e completamente sem esperança.

VR – Em sua opinião, o que pode fazer a diferença, qual seria a solução?

EV – A Igreja precisa colaborar no processo de reconstrução do país. Não uma ou outra denominação, mas a igreja de Jesus no mundo inteiro, afinal é um país. É preciso treinar, doutrinar, discipular, cuidar do órfão e da viúva. O Haiti é obrigação da Igreja como um todo.

VR – Você visitou uma favela nesta última viagem. Como foi?

EV – Extremamente difícil. Vi crianças que desistiram de chorar. Uma situação que eu nem imaginava que poderia existir. A criança chora, chora e chora de novo e não vê mudança, nada acontece e seu pedido não é atendido. Ela para de chorar porque entende que não adianta chorar. Enquanto muitos estão confortáveis em seus sofás sem saber o que acontece aqui, crianças ficam em fila, com uma bacia nas mãos esperando por comida.

Acompanhei um projeto de distribuição de comida, idealizado por um fotógrafo da ONU, San Del-pou. São mais de 3000 refeições servidas por dia. A favela de Demas 77 é uma das mais perigosas de Porto Príncipe. Lá não sobe polícia, não sobe exército e nem a Minustah, só ele tem acesso. Esse rapaz é um Cornélio para Deus. Cuida da viúva e do órfão, faz a obra de Deus e nem sabe que faz.

VR – O que te move?

EV – Algumas coisas. O desafio da obra; mostrar a fé através das obras, mas principalmente o olhar da crianças. Sei que a ONG não vai conseguir salvar o país inteiro instantaneamente, mas o que fazemos é tentar salvar o Haiti um pedacinho por vez.

VR – Qual a solução para o Haiti?

EV – O mundo se mover para ajudar. Não vejo uma solução, mas uma responsabilidade global.

VR – Depois de tudo isso, qual seria o seu pedido?

EV – Jesus, salve o Haiti. Não vejo nenhuma solução real para o país que não passe pelo amor de Cristo.

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